segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um salto de fé | A leap of faith

Quando se parte assim à aventura, tudo me faz lembrar uma expressão, salto de fé. É engraçado que esta entrou no meu vocabulário, a partir de um dos filmes de um dos meus heróis da adolescência, o Indiana Jones, já lá vai algum tempo em que sonhava ser arqueólogo e ter vivências épicas na descoberta de artefactos antigos. Mas como estava a dizer, esta expressão fez sentido para mim quando vi o «Indiana Jones e a última cruzada», e na fase final da história o arqueólogo tem de se submeter a uma série de provas para conseguir chegar ao Santo Graal. Uma delas, era o salto de fé, em que este se deparava com um abismo, daqueles escuros em que não se vê o fundo e forçosamente ele tinha de alcançar uma entrada que estava do outro lado do escuro buraco. Como o conseguiu? Com um salto de fé, com um passo em frente ao desconhecido e ao acreditar, uma estreitíssima ponte antes invisível aos olhos foi sendo aos poucos revelada. O herói acaba por alcançar o Graal que necessitava para salvar o pai. E fim de filme.

Mas é um pouco assim que estou a viver isto por dentro. As incertezas e a imensidão do caminho torna necessário que haja um pouco mais que vontade, um pouco mais que coragem, é preciso um salto de fé que por sua vez nos potencie a fé e o acreditar que há algo maior que nos impele, que nos guia.

Se falo em fé, falo em caminho, se falo em caminho, falo em Santiago, se falo em Santiago, falo numa forma antiga de se levar a fé e a evangelização, ainda que os métodos de outrora não sejam os mais recomendados, mas seguindo o raciocínio, se falo no amigo Santiago, falo noutro amigo, Jesus. Não, não é o do Benfica. Mas sim aquele que marcou a história e fez com que o tempo se distinguisse em duas épocas distintas... hoje só provavelmente as pessoas que jogam ao Civilization se devem lembrar que estamos na era d.C. (depois de Cristo) e que antes desta houve a fase a.C. (antes de Cristo).
Continuando, de alguma forma então, mesmo que rebuscada, o Caminho de Santiago acaba por existir relacionado a esse Homem que marcou a história, mesmo para aqueles que não acreditam, o caminho existe porque ele existiu, caso contrário seria apenas um percurso pedestre.

Neste caminho como na vida, mas sobretudo neste caminho, podemos experimentar de uma forma aberta e sem julgamentos a vivência da máxima e lema de vida que a religião católica tanto aclama, "amarmos o próximo como a nós mesmos".

Ali temos uma oportunidade única de fazer o bem, quando se ajuda, quando se incentiva, quando se partilha uma refeição, um abrigo ou um agasalho, quando apenas gentilmente se diz bom dia e se deseja bom caminho. Ali, podemos desprender-mo-nos desta sociedade desconfiada que não permite abordagens de pessoas desconhecidas na rua, e podemos abordar quem quisermos sem sentirmos que vamos importunar. Temos liberdade. Existe um fio condutor que une todos os peregrinos, e lhes abre o espírito para o outro, o tal próximo tão apregoado.

Neste caminho vive-se a essência da humanidade, talvez o meu olhar utópico me faz levar o pensamento que o propósito da máxima anterior seria que as religiões e outro tipo de crenças deixassem de existir para criar divergências, pura e simplesmente acabavam porque toda a gente teria uma postura de partilha e bem do outro. Era bonito... no mundo não é possível ao menos ali é. Porque o caminho é percorrido por pessoas de todos os cantos do mundo, com credos e "fés" diferentes, ou mesmo por gente que não acredita em nada, mas que após aquela vivência por certo não viverá de forma indiferente à intensidade e riqueza que esta experiência acaba por trazer. De tal maneira que por certo toda a gente perguntará a si mesmo de onde vem aquela energia, mística, espírito, força e magia que une quem percorre este longo trilho.

Acredite-se no que se acreditar, em tudo ou em nada, somos livres em última instância no pensamento, ali vive-se... com fé.

Eu? Acredito.