quarta-feira, 30 de junho de 2010

29º Sinal | Como um dia de Santo Domingo da Calçada

Hoje o dia começou às seis da manhã, talvez seja o áútimo em que ando de autocarro, a ver como estou amanhã. Hoje ficaremos no albergue mais antigo do caminho. Um albergue fundado em 1044, ela Confraria do Santo. Estou na terra da galinha que está dentro da igreja.
Até ver, hoje será um dia pacato. Tenho de forçar o descanso porque nos últimos dias com tantas horas de cozinha, e animação de outros peregrinos, tradutor para hospitaleiros, não tenho dado muito descanso ao pé. Claro que o sentido de utilidade que tenho vivido compensa, mas o clube dos coxos tem vindo a diminuir e amanhã se não estiver bom serei o único. Mas é o que tiver de ser, temos mais vinte e tal dias a andar... a sensação continua a ser surreal.
A vida é bela de mochila as costas.

28º Sinal | A unificação do caminho

Hoje tive oportunidade de ir dar um salto muito rápido ao blog, e é bom sentir que vou conseguindo fazer chegar de alguma forma o modo que eu vou absorvendo as coisas deste caminho. Diz o meu irmão e bem, que não é um caminho alternativo, é o meu caminho, é a minha história de vida. E caminho, cada um tem o seu. Hoje estou em Najera, é dia de S. Pedro e de festa popular impressionante. Junto a uma zona verde do rio que atravessa a povoação, crianças a idosos se juntam para fazer churrascos e beber vinho da rioja, que fresco muito fresco não é mau afinal. As crianças e jovens fazem guerras de água com pistolas e garrafas de água e vinho se for o caso, dentro e fora do rio. Em pouco tempo, infância e juventude esta toda encharcada. No vídeo apesar da má qualidade de imagem podem apreciar a alegria do povo que dança à frente e atrás de uma fanfarra. O espírito é extasiante. Deu-me vontade de vir cá para o ano. Mas a minha amiga basca Haizea contou que numa terra chamada Aro hoje logo pela manhã há uma batalha de vinho. E depois a festa segue com o ritmo daqui. Pois meus amigos temos de vir celebrar aqui. Hoje naquele que é o meu caminho mais uma vez fui o cozinheiro para nove, fiz um panelão de arroz de frango que não sobrou, do muy rico há quem já deseje que eu continue mal do pé para ser o cozinheiro de serviço à abertura do restaurante de tortilhas... Querem-me destinar à cozinha. Hoje entre conversas com o Dantas, brasileiro que nos tem acompanhado, estivemos a partilhar histórias de vida e foi estranho no bom sentido ter encontrado uma pessoa com uma história de vida em alguns campos com tantas semelhanças à minha. Foi estranho mas bom, sinais de esperança para um bom sentido de vida. Na vida, no mundo, nada é original tudo se repete apenas os intervenientes mudam, mas dai surge a unicidade da vida de cada um e dos seus. Ao fim ao cabo da falta de originalidade no sentido global, surge o especial e único do que cada um somos a vivemos.
A vida é bela de mochila às costas com paragem em lugares diferentes, com histórias diferentes para contar. Por vezes penso que poderia escrever mais sobre os locais, mas mais que os locais e as paisagens bonitas, o caminho são as pessoas que passam, partilham e cohabitam nele. Deixo os pormenores históricos para o conselheiro Acácio. Entretanto a vida segue... Amanhã sigo até Santo Domingo da Calçada.