quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Medo 1: A chuva nos Pirenéus | Fear 1: Rain at the Pirinees


Nos próximos dias os desenhos vão sendo pequenas referências às coisas que me vão preocupando a cabeça.

Hoje, a preocupação que me assola, é ter de abordar a subida de 22 km dos Pirenéus com chuva, seguindo a Rota de Napoleão, que segundo li, aquilo enlameia de tal maneira que a dificuldade, que é enorme, triplica.

Ora chuva, não tenho medo de andar à chuva, até porque duas das minhas experiências de peregrinação (Fátima e Finisterra) foram feitas debaixo de muita chuva. Então a de Finisterra dois dias e meio de chuva intensa e frio em pleno verão... por vezes até dizíamos que ter vindo a Finisterra no inverno não tinha grande piada, que para a próxima teríamos de ir no verão.
Na experiência de Fátima, lembro de um dia 25 de Abril com chuva intensa, e passar na ponte da Figueira da Foz com as botas (aquelas malditas botas) a fazerem splosh splosh, parecendo dois aquários por dentro. O pior em nessa etapa de Fátima, em que ficámos em Marinhas das Ondas, foi o facto de durante o meu banho de água quente, esta ter acabado de repente e vir água gelada, os meus tendões contorceram-se todos e não foram ao sítio nem com massagem, e no dia seguinte fiz 64 km em cima de um pé/perna todo avariado, os últimos 20 km uma tortura. Coxeei durante dois meses.

Como costumo dizer, andar à chuva só custa até estar encharcado depois disso é sempre andar, a dificuldade só acresce se o vento que aparecer nos fizer arrefecer muito, fora isso a chuva é suportável, e por vezes inspiradora. Nada em como parar num café, e num dia assim, pedir um bagaço ou água ardente, melhor que um redbull que nunca experimentei, porque dá asas e aquece o espírito. Ora o chopito-blanco, leva-me a um dos episódios mais caricatos do caminho de Finisterra quando ao entrar num tasco familiar, daqueles gerido por pai, mãe e filha, pedimos informações para o dia seguinte e uns copos de água ardente, estava tão ardente que uma o homem deve ter-se escaldado e deixou-a cair ao chão. Era da boa, caseirinha e forte. Mas ao pedirmos isto o homem da tasca, vira-se para nós e diz: "Vosotros peregrinos?!". Foi de rir. Mas o hilariante não se ficou por aqui, ao pedirmos a direcção tomar para o dia seguinte, o senhor dizia que seria fácil, uma subida sem muito custo, por trás a esposa dizia, "Fácil o carajo!", ou lá o que era, esta divergência deixou-nos intrigados. No dia seguinte verificámos que não era fácil, mas também não era assim tão difícil.

Na vertente enóloga do caminho há um ditado: «A pão e vinho se faz o caminho.», se os nossos amigos tão presentes, eles, dizem deverá ser verdade. E é um facto, sem abusos, a dose certa de vinho dá aquele bem estar que por vezes é preciso para esquecer as maleitas que se vão somando de dia para dia de caminho. Ora comecei em chuva, acabei em vinho. O que tem a ver um com o outro. Ambos metem água! É como eu nestes dias de inspiração fraca.

Mas a moral de hoje é que por mais dificuldades que nos possam surgir, as coisas terão sempre a sua maneira de serem ultrapassadas. Mal ou bem, vai ou racha, pelo menos é como eles dizem.

E esta hein! (fica a homenagem a um Sr. que marcou muitas gerações - Fernando Pessa)