terça-feira, 13 de julho de 2010

43º Sinal | A etapa da cruz de ferro até Ponferrada






Bem a saga das etapas duras instalou-se. Há dois dias que abandonei as planícies tórridas da meseta de Leon, e comecei a trepar e descer montes, mas que montes. Hoje depois de alvorada às seis, seguimos novamente até à cruz de ferro e a partir daí sobe ainda um pouco mas depois são descidas e descidas daquelas que fazem tremer as pernas de tanto esforço. Vinte e tal km duros, mas em que a paisagem e as aldeias por onde se passava eram qualquer coisa de bonito. Melhor só a etapa de Saint Jean. Chegámos ao albergue ao meio dia e pouco e mais uma vez um mundo novo de gente, há muita gente a começar aqui o caminho. A massificação chegou para ficar. A etapa deixou sequelas em todos, em mim um joelho dorido, um pé empenado e uma bolha valente que vem a resistir. Ossos do ofício. E por mais conselhos que sigamos não há como evitá-las, se tiverem que aparecer, aparecerão. Fora este detalhe pouco interessante, telefonei ao grupo que ficou para trás, contaram-me que quando leram uma mensagem minha à dias que se emocionaram e que houve lágrimas no canto do olho. E que a falta é reciproca. A vida é intensa por estes lados, mas também não sei viver de outra maneira. A pacatez dos dias e a ansiedade de acabar começam a dominar, isto nesta fase começa a saber a nostalgia. Não estou a desanimar, mas ainda estou para descobrir o sentido nestes dias que já são poucos que faltam. No meio disto tudo, é engraçado ver os orientais com o seu ar simpático e cómico a cumprimentarem-me mal me vêem a não sei quantos metros de distancia. Podia fazer um relato sobre Ponferrada, mas dado o meu estado não tive oportunidade de vislumbrar grande coisa, mas é bonita. Cá fora valoriza-se mais os chamados centros históricos. Mas isto levaria para outras guerras que me faz lembrar um pouco triste que no nosso país tratamos tão mal o nosso património. Devaneios à parte, a vida é estranha e bela de mochila às costas. A ver o que amanhã traz.