Tem sido difícil com o cansaço a acumular escrever com o ritmo inicial. Por isso, peço desculpa pelos atrasos, mas tranquilizo já dizendo que tudo vai bem. Ontem a etapa de vinte e tal km entre Leon e San Martin del Camino, foi do pior que pode haver. Mmuita estrada, paisagem feia, San Martin é desinteressante. Foi um bom dia para descansar, tentando fugir ao calor mas nem dentro dos albergues se consegue isso. A sensação de mau estar do grupo ter-se partido continuava, a juntar ao mau espírito que três ou quatro bolhas me andam a causar. Mas o mal foi os pés terem inchado como nunca vi, os meus. Terminado o dia de ontem, o dia de hoje posso dizer que foi quase perfeito. Apesar do início difícil, por ter os pés extremamente inchados, e ter alargado os atacadores ao máximo, a etapa fez-se muito bem, com algumas subidas e descidas por paisagens que por vezes pareciam o Alentejo. A meio do caminho de hoje passámos por mais uma placa que diz quantos km faltam para Santiago. Um pouco mais à frente na etapa, o Julian perguntava se era melhor parar para comer. Disse que não e seguimos caminho os cinco. Um km depois estava um rapaz com um posto de apoio ao peregrino com tudo que se podia querer, de sumos a bolachas a bolos caseiros, fruta tinha de tudo. Incluindo boa energia e de pôr em prática de forma exemplar o lema que partilhei à dias. Com energia reposta, aquela pausa serviu também para aumentar o bom espírito e os sorrisos e gargalhadas de quem aprende a apreciar de coração cheio a grandeza da atenção daquele rapaz que já tinha feito o caminho há dois anos e agora retribuía. Faltavam poucos km para chegar a Astorga, cidade pequenina, mas muito bonita, com Catedral e Palácio de Gaudi (a visitar) e outras tantas praças a ver. Depois de instalados no albergue a boa disposição aumentou com a chegada dos três mosqueteiros da Normandia e o Eugénio, o senhor italiano de quem já falei. Foi bom ver gente conhecida, talvez aos poucos consiga formar um novo grupo ainda maior. Banhos e lavagem de roupa tratada, fomos almoçar cozido maragato, muito parecido ao português. Até hoje a melhor comida do caminho. Depois fomos esticar as pernas para ver a catedral da cidade e o palácio episcopal da autoria de Gaudi. Entretanto tenho conhecido mais gente, Cláudia, da Bolívia, Bret e o Abe dos EUA, e o Filipe, do Brasil, e que por coincidência tem de apelido Bernardo. O Abe está a fazer o Caminho com a mãe, uma experiência interessante. Ainda mais uma curiosidade que liguei ao primeiro sinal do revisor do comboio. Abe é diminutivo de Abraham, Abraão em Português. Ele anda mesmo aí a proteger-me no caminho. Lentamente vou ganhando novo ânimo. Sempre à procura de como ser útil, vou falando por telefone com as irlandesas que ficaram para trás, para ver se lhes mantenho a moral de continuarem até ao fim e dando indicações do que vem a seguir. Assim vou fazendo caminho, assim a vida é bela, dura e intensa de mochila às costas.
domingo, 11 de julho de 2010
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