Esta etapa prometia ser difícil. E assim foi. Os pés continuavam inchados, desde início que se começa a subir suavemente até que os últimos seis km são bem puxados. Fiquei extremamente cansado. Deixámos as mochilas no albergue e subimos a mais um dos pontos mais místicos do Caminho - a Cruz de Ferro. Este local tem um encanto especial onde pessoas das mais diferentes culturas deixam as suas pedras transportadas ao longo do Caminho até ali, assim como tudo o que se possa imaginar existe ali - símbolos de fé, promessas e pedidos. Voltámos a descer ao albergue fazendo assim um total de cerca de trinta e três km de etapa. Caí redondo na cama sem banho e sem almoçar. Por andar a dormir mal, sinto-me mais cansado que o normal. Duas horas e meia depois acordei bem, fui ao banho e almoçar. Passei a tarde com uma guitarra emprestada, fazendo festa para quem estava a aproveitar o sol. Conheci uma coreana com o nome da minha irmã, ainda mais duas americanas, uma boliviana que já vem a caminhar connosco há uns dias, e o japonês Dio. Amanhã seguimos até Ponferrada. Mais uns vinte sete, penso que vamos baixar os 200 km de distância a faltar até Santiago. Esta fase dos próximos quatro dias promete ser desafiante, a ver como me aguento e que histórias trazem mais. Depois do que vivi até hoje no caminho e com a intensidade que foi, que nos dias mais ou menos bem mais pacatos, resta saber saborear os pequenos e simples momentos e torná-los tudo menos banais, como quem diz especiais.
A vida está cada vez mais dura mas a vida é sempre bela de mochila às costas.