domingo, 27 de junho de 2010

23º Sinal | O sentido do caminho


Hoje não foi um dia fácil de digerir, por vezes é difícil de lidar com a não concretização das coisas como idealizamos. E sobretudo tudo parece pior quando escrevemos no calor do momento e com a cabeça quente. Depois do choque da manhã, tive dois momentos grandes... Que em parte me poderiam fazer ir embora já realizado. Ainda que ao longo do caminho que tenho vivido, tenha vivenciado a felicidade dos simples que aqui se vive por todos os poros de quem a muito custo com mochila às costas tem sempre uma palavra ou um sorriso ou almoço para partilhar... Hoje vivi dois momentos de plenitude do espírito do caminho. O espírito de construção de família e partilha de quem somos quando já éramos mais de dez peregrinos à volta de uma mesa e que sem quase ninguém se conhecer tudo se divide, tudo se compartilha... Um pouco em sintonia com a famosa multiplicação dos pães. Um momento maior, sem dúvida e que me realizou. O outro durante a tarde, é uma das razões que me prende aqui a esta vivência cem por cento humana, para além de todo apoio e carinho que me tem chegado da família a pessoas que pouco conheço. Pois foi, compartilhei um momento com o Eugénio, senhor italiano de secenta e cinco anos, que depois de ouvir o que me aconteceu, me disse que já havia feito o caminho duas vezes e que na primeira se lesionou no joelho mas ainda assim chegou ao fim. E nisto emocionado com as lágrimas nos olhos me disse: Partiste agora tens de chegar ao fim. Descansa, mas chega ao fim. Porque ao chegar é que tens aquele sentimento maior de quem fica contente por ter chegado mas triste por acabar ali. Trocamos o número de telefone para nos encontrarmos ao chegar a Santiago, despedimo-nos com um forte abraço e seguiu caminho. Aqui não há barreiras culturais, o incentivo de cada passo dado é a partilha do que se vive. Assim é o sentido do caminho, assim se vive.
A vida é bela de mochila às costas, mesmo quando não se pode andar. Ps: estou com aquela ansiedade de querer ficar bom, ver o tempo passar e não notar melhorias... há que ter calma e tempo... No fim de contas até vinte cinco de julho andarei por estes lados. No fim, tudo foi uma fase menos boa numa experiência inesquecível.

2 comentários:

Miguel disse...

Fase menos boa? Quem sabe aquela onde podes aprender mais ;) talvez agora já comeces a perceber o "segredo" do caminho! Abraço Sr. meu irmão mais novo!

o chefe disse...

Força, força,podes ter a certeza que aqueles que te conhecem e os que não vão estar sempre aqui a dar-te todo o apoio.
Não te digo para continuares nem para "abandonares" porque essa decisão é tua e só tua, tu é que sabes como te encontras.
Ultreia
o Chefe