domingo, 11 de julho de 2010

41º Sinal | Dois dias, duas etapas, uma feia, outra esplêndida









Tem sido difícil com o cansaço a acumular escrever com o ritmo inicial. Por isso, peço desculpa pelos atrasos, mas tranquilizo já dizendo que tudo vai bem. Ontem a etapa de vinte e tal km entre Leon e San Martin del Camino, foi do pior que pode haver. Mmuita estrada, paisagem feia, San Martin é desinteressante. Foi um bom dia para descansar, tentando fugir ao calor mas nem dentro dos albergues se consegue isso. A sensação de mau estar do grupo ter-se partido continuava, a juntar ao mau espírito que três ou quatro bolhas me andam a causar. Mas o mal foi os pés terem inchado como nunca vi, os meus. Terminado o dia de ontem, o dia de hoje posso dizer que foi quase perfeito. Apesar do início difícil, por ter os pés extremamente inchados, e ter alargado os atacadores ao máximo, a etapa fez-se muito bem, com algumas subidas e descidas por paisagens que por vezes pareciam o Alentejo. A meio do caminho de hoje passámos por mais uma placa que diz quantos km faltam para Santiago. Um pouco mais à frente na etapa, o Julian perguntava se era melhor parar para comer. Disse que não e seguimos caminho os cinco. Um km depois estava um rapaz com um posto de apoio ao peregrino com tudo que se podia querer, de sumos a bolachas a bolos caseiros, fruta tinha de tudo. Incluindo boa energia e de pôr em prática de forma exemplar o lema que partilhei à dias. Com energia reposta, aquela pausa serviu também para aumentar o bom espírito e os sorrisos e gargalhadas de quem aprende a apreciar de coração cheio a grandeza da atenção daquele rapaz que já tinha feito o caminho há dois anos e agora retribuía. Faltavam poucos km para chegar a Astorga, cidade pequenina, mas muito bonita, com Catedral e Palácio de Gaudi (a visitar) e outras tantas praças a ver. Depois de instalados no albergue a boa disposição aumentou com a chegada dos três mosqueteiros da Normandia e o Eugénio, o senhor italiano de quem já falei. Foi bom ver gente conhecida, talvez aos poucos consiga formar um novo grupo ainda maior. Banhos e lavagem de roupa tratada, fomos almoçar cozido maragato, muito parecido ao português. Até hoje a melhor comida do caminho. Depois fomos esticar as pernas para ver a catedral da cidade e o palácio episcopal da autoria de Gaudi. Entretanto tenho conhecido mais gente, Cláudia, da Bolívia, Bret e o Abe dos EUA, e o Filipe, do Brasil, e que por coincidência tem de apelido Bernardo. O Abe está a fazer o Caminho com a mãe, uma experiência interessante. Ainda mais uma curiosidade que liguei ao primeiro sinal do revisor do comboio. Abe é diminutivo de Abraham, Abraão em Português. Ele anda mesmo aí a proteger-me no caminho. Lentamente vou ganhando novo ânimo. Sempre à procura de como ser útil, vou falando por telefone com as irlandesas que ficaram para trás, para ver se lhes mantenho a moral de continuarem até ao fim e dando indicações do que vem a seguir. Assim vou fazendo caminho, assim a vida é bela, dura e intensa de mochila às costas.

4 comentários:

Anónimo disse...

É bom teres BONS MOMENTOS, eles apagam os MENOS BONS...Tou a pensar que se calhar "SERIA UMA EXPERIENCIA ENESQUECIVEL PARA TI" fazeres o mesmo percurso UM DIA bem acompanhado......PRIMA DORA,TIA ROSA,E A FELICIDADE......Lollllllll.que tal pensares nisso? sem pressas nem prazos....BJOQUINHAS.Prima DORA

oicaca disse...

COZIDO COM GRAVANZOS!

Uma receita sempre bem vinda, ao gosto do cozidinho à portuguesa com todos...

Depois desta caminhada ficas também mais rico na preparação culinária! Tens de nos oferecer uma
gravanzada, cheia de calorias, no inverno!

E a meta mais próxima, depois da romana Astorga!E o Gaudi a exercitar o traço e o design inconfundível...

Na babel do quotidiano, diz-me lá donde é que ainda não encontraste caminhantes!
Afinal nessa auto-estrada para Santiago circula uma multidão...
A solidão é um mito!

Mas é deveras interessante o relato das emoções, aventuras e desventuras!

E viva España e a Sara Carbonero do Casillas, ao ataque! Com um chocho daqueles...

Estas crónicas vão ficar memoráveis!

Adios y hasta luego!

Abrazos,

Olheiro do Carramona

o Chefe disse...

Não entres em tritezas relativamente aos amigos que fizeste, outros vão aparecer e outras saudades vão ficar, o caminho é assim mesmo.
Quando chegares a Santiago, aí sim vais sentir um vazio como nunca sentiste, uma tristeza imensa, mas uma satisfação enorme e teres convivido com gente que não conhecias e que agora fazem parte do teu coração.
Continua assim...
Ultreia
o Chefe

aprender matemática com exemplos do budismo disse...

"Nuestra vida es la obra de nuestros pensamientos".

Sin embargo, has cambiado alguno?